Vadeia, Dois Dois! Vadeia no mar!
- Redação PASTORI

- 27 de set.
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Há mais de vinte anos, nesta mesma data, uma senhora muito devota havia reunido crianças de uma comunidade do bairro de Jaguaribe, em Salvador. Ela abria as portas da casa em um condomínio fechado para servir o que, neste instante, muita gente saboreia na Bahia: o caruru. A senhora chamava-se Jacira Pastori, minha vó saudosa, mãe de Antonio, Tati e Lili, e orgulhosa esposa de Dr. Carlos.
Muito católica, Jacira, assim como milhares dos meus conterrâneos, transcendia uma religião. Hoje, naquela minha Terra de Todos-Os-Santos celebra-se os médicos gêmeos São Cosme e São Damião. Mas também celebra-se Doum, Crispin, Crispiniano, a Ibejada. Enfim, celebra-se, indistintamente, as crianças. Exalta-se o que elas têm de mais belo: a espontaneidade, a pureza, a sinceridade de um amor visceral.
Lá, onde também existe tradição para quase tudo, conta-se que, em casa onde há caruru, sete meninos devem servir-se antes. Sem muita cerimônia, usando as próprias mãos, a eles é dada a primazia das primeiras porções desta comida difícil de preparar, tradicionalmente servida com guaraná e muito doce. No interior, diante de igrejas, vai-se além: joga-se balas para cima - uma chuva colorida sobre meninos travessos.
Hoje, lembrei-me com muito amor da Bahia, de minha avó e da criança que fui em sua casa - lugar abençoado por mais gente do que havia no altar.
Vadeia, Dois Dois!
Vadeia no mar!
